Sobre proposta do executivo da Junta de Freguesia de Laranjeiro e Feijó e considerando o carácter humanista, a consciência social e política, a dimensão universal da sua obra literária, expressa pelos valores humanos, a liberdade, a justiça social, a paz, a solidariedade, a fraternidade, o exemplo de personalidade maior enquanto cidadão e homem das Letras, a Câmara Municipal de Almada aprovou a atribuição do nome de Urbano Tavares Rodrigues à Praça do Centro Cívico do Feijó, junto ao Edifício Sede do Poder Local e à Biblioteca Municipal José Saramago.
Segue na íntegra a proposta aprovada em reunião de 23 setembro 2014 do executivo da Junta de Freguesia de Laranjeiro e Feijó.
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PROPOSTA
O escritor Urbano Tavares Rodrigues, destacado intelectual, comunista e figura cimeira da cultura portuguesa, faleceu no dia 9 de Agosto de 2013.
Presente por diversas vezes nas nossas freguesias, em iniciativas de âmbito cultural, numa ligação à nossa terra que advém de longínquos anos, afirmou numa Semana Cultural: “Tendo conhecimento da homenagem que me é prestada no Laranjeiro, venho comovidamente agradecer-vos e abraçar-vos. Houve um período da minha vida em que convivi muito com as comunidades rurais e fabris da área do Barreiro, de Almada e do Laranjeiro. Nas vossas sociedades culturais e recreativas falei não poucas vezes dos crimes e das vergonhas do Estado Novo fascista de Salazar, acompanhado por vezes à guitarra pelo meu querido amigo Zeca Afonso, que cantava nas pausas dos meus discursos. Resta-me dizer-vos mais uma vez o afeto profundo que me liga ao Laranjeiro e abraçar-vos emocionado”.
Urbano Tavares Rodrigues nasceu em Lisboa, embora a sua infância e adolescência, fase marcante para qualquer ser humano, tenha sido passada no Alentejo, região que nas suas palavras eram o tal paraíso da primeira escrita.
Escritor, investigador e crítico literário, licenciou-se em Letras pela Universidade de Lisboa. Foi professor em diversas universidades estrangeiras, depois de ter sido obrigado a abandonar a docência universitária em Portugal por motivos políticos. O seu regresso aconteceu apenas após a “Revolução dos Cravos”, tendo obtido doutoramento na área de Letras com a tese “Manuel Teixeira-Gomes: o discurso do desejo”, quando decorria o ano de 1984.
A ficção de Urbano Tavares Rodrigues, denotando influências do existencialismo francês da década de 50, tem como características temáticas principais uma consciencialização do indivíduo em vários níveis, desde o nível do corpo e da mente, até à identidade social e política.
A expressão máxima do reconhecimento da sua obra foi a distinção obtida através do Prémio “Vida Literária” atribuído pela Associação Portuguesa de Escritores, distinguindo Urbano Tavares Rodrigues por uma vida inteiramente doada à literatura, com particular relevo nos domínios da ficção e ensaísmo, revelando, a este propósito, a extrema lucidez e generosidade com que, em mais de meio século, sempre leu os autores de sucessivas gerações.
Urbano acreditou profundamente no grande sonho da fraternidade que levara (e talvez um dia leve) à construção do socialismo como que num sentido de existência.
Nos seus bolsos andaram sempre “sementes de liberdade” e pelos campos das palavras soube semeá-las num mundo que necessita de vozes inquietantes que nos despertem.
Para Mário Cláudio, Urbano é um escritor responsável pela evolução da ficção portuguesa sendo uma “dominante bandeira do que se chama grandeza”.
O príncipe, como lhe chamou o seu amigo Francisco Simões, ao ultrapassar o litoral da vida, em que de vez o sol se apagou, acreditamos que terá recebido o que cada nova manhã lhe ofereceu de beleza, de imprevisto e ternura.
Considerando,
O humanismo, consciência social e política, a dimensão universal da sua obra literária, expressa pelos valores humanos, a liberdade, a justiça social, a paz, a solidariedade, a fraternidade, o exemplo de personalidade maior enquanto cidadão e homem das Letras,
O órgão executivo da Junta de Freguesia de Laranjeiro e Feijó,
Propõe:
1. Atribuir o nome de Urbano Tavares Rodrigues à Praça do Centro Cívico do Feijó, junto ao Edifício Sede do Poder Local e à Biblioteca Municipal José Saramago
2. Apresentar esta proposta à Câmara Municipal de Almada
3. Apresentar esta proposta à Assembleia de Freguesia de Laranjeiro e Feijó
Foto: DR